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Chapada dos Veadeiros - Ponte de Pedra

Acordamos cedo, café da manhã mega natureba com música celta bombando ao fundo. Mochilas abastecidas e aguardamos a chegada do Zé Pedrão, nosso guia (R$ 100,00). Não queríamos a presença de um condutor conosco, não pelo R$, mas porque é mais legal descobrir os caminhos sozinhos. Todavia, hoje seria obrigatório, e a entrada para a Ponte de Pedra se fazia por uma propriedade particular (pousada Vale das Araras). Mais tarde descobriríamos o quanto perderíamos sem a presença do guia neste dia. Após um breve passeio pela cidade de Cavalcante seguimos rumo à Ponte de Pedra. Depois de algum tempo de estrada já pagávamos a taxa de extorsão na pousada base p/ trilha. Observamos, pelas datas no livro de visitas, que fazia um tempinho que ninguém encarava a referida caminhada. Zé Pedrão, um condutor diferenciado, não parou de falar 01 minuto, amizade à primeira vista com a Carlota. Não aguentava mais a história do pastor que benze por telefone, não adiantava, não iria anotar o número do celular dele. Aqui o caminho de terra fica bem mais complexo, exigindo bastante esforço do Land Rover/Palio, era uma estradinha bem fechada pelo mato.

Findada a possibilidade de continuar motorizados, pé na trilha para nós. Com guia é bem mais fácil, não ficamos preocupados com desvios e entradinhas. Seguimos o Zé Pedrão e, de cara, uma baita subida. Aqui eu cansei, cheguei lá em cima morto. Agora começava a maravilha, a caminhada rumo ao atrativo é linda. Certamente as fotos não irão retratar o espetáculo. Estava um baita vento e um baita sol. A cada curva uma nova paisagem, muito legal. Interessante era notar que, diferentemente das outras trilhas, aqui não haviam pegadas no chão, realmente um rolê muito exclusivo. Trilha sussa, uma caminhada agradável. Logo alcançamos a Ponte de Pedra e Zé Pedrão já foi avisando que não poderíamos escalar a rocha. Tranquilo, o visu já era exótico e recompensador. Parada para o lanche e agora subimos para o alto do morro, rumo ao mirante. Mais uns minutinhos e um visu de perder o fôlego. Lindo, lindo, lindo. Aqui era uma paisagem mais monumental, uma bela vista da Chapada dos Veadeiros. 

Nos aventuramos em algumas beiradinhas e penhascos, o vento chegava a incomodar de tão forte. Lá de cima o Zé Pedrão nos mostrou um poço com uma cachoeira na beira do precipício e disse que iríamos até lá. Não entendemos muito bem, mas tranquilo, ele falava tão rápido que só 25% das palavras conseguíamos processar. Aqui um momento triste: não sei como e nem onde, mas minha calça rasgou de ponta a ponta, minha calça novinha, não tinha 12 anos de uso. Foi um baque! Luto! Tinha maior xodó por ela, resgatei-a 3 vezes do lixo, mas dessa vez não teve jeito. O que me consola é que tenho certeza de que partiu em paz, fazendo o que ela mais gostava, e num pico maravilhoso. Pendurado num penhasco e tentando tirar fotos, sinto uma picada doída na coxa, de repente outra, estou sendo atacado por abelhas, largo a máquina no chão e volto para para terra firme, mais dois ferrões para coleção. Caraca que inferno, agora elas iriam passar o dia todo em cima do meu corpinho. Não sei se era meu desodorante, protetor solar ou alguma planta que esbarrei, fato é que até o final da trilha servi de aeroporto para centenas de abelhas, marimbondos e insetos venenosos em geral. 

Depois de um tempo brincando no topo decidimos voltar para a Ponte de Pedra e tentar mergulhar no riachinho. Prontos para molhar a tanguinha e Zé Pedrão indica um outro caminho para o mergulho: o canion! porra como assim? depois do canion é o penhasco! mas não é que era isso mesmo, sem o guia nunca saberíamos que poderíamos ir nadando pelo canion até alcançar a beira da cachoeira que escorria pelo precipício. Muito show. Lugar único. Fiquei um bom tempo dentro d´água por causa dos marimbondos assassinos apaixonados por mim. Lugar espetacular. Na face oposta tem um paredão gigante, dando uma ideia de lugar escondido, curti demais. Milhares de fotos.

Já enrugadinhos pela piscina começamos nosso retorno. Estava cansado. Na volta a trilha ficava mais bonita com o sol da tarde. Na descida final o Carlota escorregou e torceu o joelho de vidro operado meses antes, momentos de tensão. Felizmente nada grave, continuamos até o estacionamento. O retorno pela estradinha foi bem ruim também, em vários momentos tivemos que descer para a caranga conseguir encarar as subidas. Os carrapatos agradeceram e se lambuzaram comigo. Fomos direto para o centro de Cavalcante encarar um almojanta. Zé Pedrão indicou um self-service por quilo bem meia boca, comida fria, na verdade quase gelada. Nem deram cortesia para  o guia, pagamos sua parte. Mas com a fome que estava, papei e repeti lambendo os beiços. Retorno para pousada e já acertamos o dia seguinte: comunidade Kalunga com as cachoeiras Capivara e Santa Bárbara. Banho quente, caça aos carrapatos e mais um bate papo agradável com o pessoal da pousada, éramos os únicos hóspedes. Ticado com louvor, com certeza foi o rolê que mais gostamos na Chapada dos Veadeiros. Quando abrir a portaria do Parna em Cavalcante pretendo voltar e refazer esta trilha.   



Santo André - Parque Central

O Parque Central da cidade de Santo André é um lugar bastante agradável, com ciclovia, trechos p/ caminhada, muitos lagos e possivelmente todos os cães da região passeando. Demos um rolê tranquilo e, próximo ao meio-dia, nos dirigimos ao Sabina, que ficava no muro ao lado do parque. Aqui uma observação: não existe uma portaria que ligue os dois parques, sendo necessário caminhar num trechinho meio feio numa viela da favela, obviamente o Carlão se esvaiu em fezes.


Parque Nacional da Serra das Confusões - PI

De tão incrível que foi, deixei o relato para mais tarde, queria fazê-lo de modo caprichado, único, não queria esquecer nenhum detalhe, mas os anos se passaram e ele nunca foi escrito. Agora a memória é falha, e as escassas fotos pouco ajudam, mas uma hora é preciso escrever, mesmo que infelizmente muito se tenha perdido da lembrança da caminhada. 

   
Verão de 2006, eu e Alex decidimos fazer uma trip diferente, atravessamos e sertão do Piauí até alcançar os Lençóis Maranhenses. Uma das paradas foi justamente o Parque Nacional Serra das Confusões. Quando dormimos na cerâmica da Serra da Capivara, a mulher havia nos indicado, segundo ela, o único guia que fazia o parque das Confusões, Waltércio era o nome dele. Contato feito, arrumamos uma carona para Caracol na caminhonete do próprio IBAMA e, lá na cidade, contratamos o transporte que iria nos deixar no parque e nos buscar 2 dias depois. Ficamos 3 dias e duas noites (acampando) no parque.

Dia 01 - No primeiro dia saímos de Caracol e fomos até a comunidade de Guaribas que fica dentro do parque. A estrada é surreal, aberta por picaretas no meio das rochas. Fomos de jeep porque carro normal não chega. No meio do caminho pedimos para parar um pouco, visual impressionante, fotos. Atravessamos a comunidade pela estrada de areia e poeira fomos até o início de uma trilha que chegava até um olho d´água. O transporte nos deixou, não dava mais para continuar, nem 4X4. Combinamos de nos encontrar ali mesmo 2 dias depois. Partimos, então, eu, Alex, Waltércio e um galão com 18 litros d'água para um rolê inesquecível. Andamos até um sítio abandonado dominado pela caatinga. Montamos as barracas no terreiro. Dezenas de escorpiões. Tipo que nem barata, você espera um pouco e surge algum. Milhares de insetos, abelhas mutantes gigantes. Muito marimbondo também. Achamos o olho d'água. Difícil era ter a coragem de beber dele. Nesta primeira tarde exploramos brevemente a parte de baixo, não subimos nos morros, fomos dormir cedo. Ainda me lembro do céu forrado de estrelas e o horizonte sem luz elétrica, completa escuridão.

Dia 02 - Acordamos com os insetos batendo nas laterais da barraca, parecia um alvo, tipo um aeroporto, barulho ensurdecedor. Logo Waltércio aparece com um morcego que estava sendo atacado por um gavião. Café da manhã e partimos para a caminhada. Nos embrenhamos em várias trilhas e picadas por ali. Show de bola, tudo muito diferente. Pinturas rupestres, caatinga, muita fauna também. Me agachei para tirar uma foto e quando vou apoiar a mão vejo algo estranho na serrapilheira. Uma jibóia! Viro para meus colegas e falo: tem uma jibóia aqui. Eles prontamente riem e duvidam. Mostro o local e logo ela sai do esconderijo. Fiquei um pouco preocupado quando Waltércio tentou pegá-la, ele dizia que era professor de biologia e que taxidermizava animais. Logo ele desistiu da brincadeira. Disse que, quando voltássemos, seria melhor nem comentarmos porque o pessoal era tão pobre na comunidade que eles iriam caçá-la para comer. De fato a comunidade Guaribas é paupérrima, tipo IDH africano mesmo. O Alex lembrou que ali foi o início do programa fome zero. Já tínhamos visitado algumas comunidades carentes e acampamentos sem terra quando éramos colegas na facu de geografia, mas ali o buraco era mais embaixo. Já naquela época viviam de esmola do governo, plantavam mamona, tentavam né. O clima, o solo e a água não contribuíam muito.

Subimos os morros, baita visu lindo! Sol rachando, claro. Andamos um pouco explorando as vertentes e descansamos num abrigo de pedra. De repente o show começou. Surgem duas águias chilenas e começam a fazer um verdadeiro balé para nós. Deveriam estar curiosas com nossa presença. Lindas, lindas. São enormes! Nunca tinha visto uma ave de rapina tão grande, apenas a harpia no zoológico. Inesquecível. Ficamos um bom tempo brisando no visual e, quando o sol castigava muito, nos escondíamos em algumas tocas por ali. À noite mais um show de céu estrelado e escorpiões pelo chão.

Dia 03 - Acordamos bem cedo, 06:00hs e já tínhamos acampamento desmontado, barriga cheia de mingau de aveia e pé na trilha para encontrar nosso transporte de resgate. Daí começou o problema. O Waltércio procurou fazer outro caminho para alcançar o ponto de encontro, mas as antigas picadas de animais (gado) acabaram por confundir (trocadilho hein) a navegação. Resultado: horas de trilha em meio à juremas afiadas que dilaceravam roupas, mochilas, braços e pernas. Entendi, literalmente na pele, porque o sertanejo usa roupa de couro. O negócio parece anzol, engancha/fisga. Isso sem falar do sol do Piaui na cabeça. Depois de um tempo encontramos outro olho d'água e o caminho para a estrada. 

Já na estrada de areia fofa, rumando em direção ao transporte encontramos o próprio resgate. Sorte? não, o pneu tinha furado! Simples, trocamos o pneu e adivinha: o estepe também estava furado! Sem problemas, tinha silver tape na mochila, fizemos um mega remendo e agora era só encher, mas como? Eles simplesmente tiraram um botijão de gás de cozinha de debaixo do capô!!! O jipe era movido à gás de cozinha!!! Enchemos o pneu, o jipe andou alguns metros e: esvaziou o pneu de novo. Mais uma tentativa, agora íamos a pé, no jipe só as mochilas e o motorista. Esvaziou de novo. Melhor parar de usar o gás do botijão, pois não iria ter combustível para voltar!!! Qual a solução? Retiramos a câmara de dentro do pneu e enchemos com folhas e arbustos!!! Surreal!!! Se não tivesse fotos nem eu acreditaria. Fato é que não conseguimos resolver o problema. Alcançamos um sítio, agora a pé, e o morador, paupérrimo mas riquíssimo de coração, ainda tentou com remendo de bicicleta resolver o impasse, mas sem chances. Detalhe, que me lembro bem, foi ele oferecendo café no único copo que tinha em sua casa. Marcou minha vida este fato. Não resolveu nosso problema mas agradeço a tentativa e hospitalidade. 

Seguimos até o centro do povoado. Um motoqueiro ofereceu, ao dono do jipe, carona até a cidade. Ficamos ali na escola batendo papo com o pessoal da comunidade de lá, estavam curiosos conosco. Já estava escuro quando voltaram com as duas câmaras consertadas. Trouxeram coca-cola gelada, nem tomei, dividi com a criançada. Agradecemos e partimos de volta para Caracol. Jipe veio à milhão na estradinha escura. Nos deixaram numa pousadinha e ainda queriam uma grana extra pelos imprevistos. Ignoramos e pagamos o inicialmente combinado. Estava rolando um velório e a cidade toda acordada, acidente de carro. Eram 3:30 da manhã quando entrei no quarto, quase 24 horas acordados e na tensão, apelidamos de "dia que não terminou". Logo o sol surgiu e pegamos o bumba de volta para São Raimundo Nonato.






Chapada dos Veadeiros - Vale da Lua

Pé na estrada e seguimos destino Vale da Lua.  Placas na estrada nos indicavam o caminho, não tem como errar. Estávamos empolgados com a visita, afinal é um dos cartões postais da Chapada. Chegando lá, pagamos a taxa de extorsão de R$ 15,00 por alma e entramos. Uma pequena trilha (minutos) e já alcançamos o Vale da Lua. Decepção total! Foi, de longe, o passeio que menos gostamos. O preço da entrada não condiz com a atração. Tinha imaginado aquele pico com dimensões consideráveis, mas é muito pequeno. Depois de tudo o que já havíamos visto, no Parna e na Cachu do Segredo, o Vale da Lua ficou muito inflacionado. Caminhamos um pouco sobre as rochas e depois demos um tchibun na água gelada. Aqui já tínhamos a companhia de uma família, era realmente mais turístico. Sinceramente não curti, ticado sem pretensões de retorno, serviu só para falar que conheço.