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Chapada dos Veadeiros - Cachoeira do Segredo

Acordamos cedo, tempo para um banho rápido, arrumar a mochila e tomar café. O Carlão havia conseguido algumas informações preciosas com o guia que conduziu o pai (Nonato) e o filho (Lucas), nossos novos companheiros, ao parque no dia anterior. Ele comentou que achou o condutor gatinho, mas não vem ao caso, além disso, o cara foi bacana, "deu toda letra pra nóis". O brother do ES desistiu de ir caminhar conosco, estava mais interessado em localizar uma casa de "massagens" com garotas nativas da região. Depois de alguma guerra pelo pão de queijo, escasso na cestinha de matinais da pousada, aguardamos nossos companheiros para iniciar a partida.

Pegamos a estrada e fomos direto para a Fazenda na qual encontra-se a famosa Cachoeira do Segredo. Aqui não tem erro, é só acompanhar as placas na estrada. Depois de devidamente paga a taxa de extorsão, ou visitação (R$ 15,00 por alma), a mulher perguntou: -mas vocês estão com guia né? Não contente com o silêncio em que se fizera o momento ela novamente indagou: -mas então vocês já conhecem a trilha né? Novamente o silêncio e um sorriso que prontamente recebeu a chave do cadeado da porteira da trilha. Iríamos na raça mesmo. Partimos rumo à cachoeira, de carro economizou um bocado de tempo, conseguimos adiantar uns 5 km de estradinha de terra e pedras. No caminho cruzamos duas vezes o rio. Carlota, piloto de fuga, mostrou toda sua destreza de penélope charmosa, principalmente na segunda travessia, que estava com o leito d´água um pouco fundo demais. Foi um ótimo teste para o Land Rover (palio) alugado, valeu cada centavo. Estradinha estava em condições muito boas, quando não dava mais para prosseguir, estacionamos a caranga e continuamos a pé. 

Iniciada a caminhada, observamos uma trilha tranquila, sem chances de desviar a rota. Em determinado momento fomos alcançados por um casal que também estava curtindo a natureza por ali. Aliás, curtiam um pouco mais que nós, pois nas 4 vezes que cruzamos com eles uma intensa maresia invadiu nossos olhos, narinas e pensamentos. Até cantamos um pouco de Bob Marley. Logo surgiu uma estradinha, fomos seguindo por ela. Sinais de que um trator recentemente passara por ali fazendo a manutenção. Certamente existe um outro caminho p/ se chegar de carro, economizando ainda mais pernada, mas beleza, no stress. Ao atravessar novamente o rio pela estradinha percebemos que o caminho acabava. O casal retornava do obstáculo e nos abordando perguntaram se estávamos sem guia. Respondemos que sim. O rapaz nos disse que conhecia muito bem o lugar, e então nos ofereceu seu serviço de condutor !!! Que cara de pau! Ele também estava perdido kkkkk. Obviamente ignoramos e rimos da situação. Demos meia-volta e logo depois de descruzar o rio já localizamos a trilha margeando o curso d´água. Seguimos por ela, (fica antes de cruzar o rio, margem direita, direção à montante = esquerda). O casal ficou para trás aguardando que mostrássemos o caminho para eles, ou que simplesmente nos perdêssemos, sei lá. 

Depois de atravessarmos o rio umas 857 vezes, chegamos num remanso muito bonito, água completamente cristalina, mergulho refrescante. Paradinha rápida e já continuamos com o pé na trilha. Depois de uns 30 min começamos novamente à margear o rio, mas desta vez o canion já se estreitava bastante pelas laterais. Só poderia significar uma coisa: estávamos chegando! Atravessa por aqui, por ali, pula mais algumas pedras, e finalmente a encontramos. Realmente a cachoeira é linda! Como diria o poeta Carlos Henrique, ela escorre pela vertente do canion formando mini-cachoeiras, coisa bonita de se ver. A cachu forma um poço extremamente convidativo para um tchibum. Não resistimos e pulamos. O Nonato e o Lucas ficaram em terra, preferiram a segurança da cueca seca. Água gelada! Gelada, renovadora. Mas é gelada mesmo! Não é apenas uma expressão, parece que milhares de agulhas estavam penetrando meu corpinho. Sorte que pulei de bota, entrando enfiei o pé num buraco nas pedras, poderia ter machucado. Hora do lanche. Logo o casal novamente nos alcança, e a mulher teima em dizer que conhece o Carlão de algum lugar. Piadinhas à parte, depois de meses descobrimos que ela conhecia, na verdade, o Roberto, irmão do Carlão (são parecidos). Eles haviam estudado juntos na facu em SP, depois ela mudou-se p/ chapada. Mundo pequeno. Fato é que pelo segundo dia seguido tínhamos a natureza praticamente apenas p/ nós, quase exclusividade total.  

Hora de retornar. Algum cuidado com o chão escorregadio e estamos na trilha. Tínhamos a informação de que a volta poderia ser por um caminho diferente, decidimos tentar fazê-la por outro trecho. Sábia decisão. Pegamos uma bifurcação à direita e caímos numa vereda bem bonita, muitas partes com visus abertos e sem proteção de árvores mais altas. Na ida iria incomodar aquele sol na cabeça, mas agora, com a luz do sol da tarde, a paisagem tornava-se ainda mais agradável. Demos algumas mini perdidas, na verdade só era o tempo de achar  a trilha que se ora se escondia, ora se ramificava demais, mas nada preocupante. Depois de algum tempo, e mais fotinhos, encontramos a estrada que tínhamos percorrido na ida. Atravessamos o rio e retomamos ao caminho conhecido. As trilhas se juntam numa casa abandonada perto de uma árvore bem frondosa na estradinha de terra. Mais alguns minutos de picada e chegamos ao carro. Agora era só encarar uma pirambeira de carro e as travessias do rio com o possante. Sobrevivemos. 

Retornamos em tempo de aproveitar o pôr-do-sol num mirante perto de São Jorge. Dizem que é um discoporto, que os ovnis estacionam lá. Tem até um cristal gigante embaixo de um portal feito com troncos secos. Aqui já temos companhia. Duas mulheres e um bebum (com som alto = chato mano). Um pouco de frio e cansaço se fazem presentes. Araquém Alcântara tira umas 1.500 fotos do entardecer, aproveitamos umas 3. Voltamos para pousada. Banho merecido, demos um rolê na cidade e aproveitamos para reabastecer os mantimentos no mercadinho. Refri descia que nem água. Repetimos a janta de ontem. Passar talco e dormir. Ticado com louvor, não é a cahu mais espetacular que já vi, mas é top, muito bonita, valeu a caminhada. Água é gelada. Não pretendo voltar.


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